segunda-feira, 30 de junho de 2008

A CRUZ E O TRONO

Gordon Watt

Em sua epístola aos Filipenses, Paulo nos mostra o magnífico clímax do sofrimento de nosso Senhor Jesus Cristo. “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:9-11).E qual é o motivo dessa exaltação e adoração ao Senhor que o apóstolo está tão certo de ser realizada? Ele “esvaziou-se a si mesmo... e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:7-8).Estas palavras tornam claro o elo entre a cruz e o trono. Um não poderia existir sem o outro. A morte e o madeiro tornaram o triunfo do Filho de Deus absolutamente certo.Ele ainda não está no trono, mas virá o dia quando todo joelho se dobrará diante Dele, e quando Ele tomará Seu lugar como Soberano sobre o universo de Seu Pai, o mundo terá a incontestável evidência do fato da vitória da cruz, da obra então feita em fraqueza e vergonha tendo sido coroada com sucesso eterno. Do conselho do Eterno veio que todo joelho se dobrará e toda língua fará sua confissão de Sua deidade, e nada pode impedi-lo. Quanto isso deveria encher nossa alma com glória e manter nosso coração no descanso quando nos lembramos que nem os esquemas do Diabo, nem a apostasia dos homens enganados podem impedi-lo de se tornar um fato! Paulo nos diz que a posição o nome do Senhor Jesus demandará e receberá o mais claro testemunho do mundo de Seu senhorio em um maravilhoso ato de adoração.Qual é o significado do trono? É um lugar de julgamento: “Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal” (2 Co 5:10).Conybeare o traduz: “Todos devemos ser manifestos sem disfarce”. A solenidade deste pensamento nos conduz a andarmos humildemente, vivermosobedientemente e trabalharmos efetivamente.É também o trono da Sua glória diante o qual as nações devem ser reunidas e julgadas. “Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória” (MT 25:31). Ele então se tornará no lugar do governo: “Ele mesmo edificará o templo do Senhor; receberá a honra real, assentar-se-á no seu trono, e dominará. E será sacerdote no seu trono” (Zc 6:13). Sobre este trono sentará o Único que é tanto rei como sacerdote e então acontecerá o que está escrito em Salmos 96 verso 13: “Ele vem, porque vem julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com a sua fidelidade”. Naquele dia o mundo uma vez mais gozará do reinado perfeito. Quando o domínio do Rei Sacerdote é estabelecido, e o Senhorio do desprezado Salvador é confessado, será reconhecido que a obra pela qual Ele deu-se a Si mesmo na morte foi consumada. Pois quando Ele tiver colocado todos os Seus inimigos sob Seus pés, se assentará no trono do governo. É muito importante para o mundo e para Ele próprio que o trono possa, o mais rápido possível, se tornar Dele, porque somente então a redenção no sentido mais completo da palavra começará a ser experimentada. “Porque foi para isto mesmo que Cristo morreu e tornou a viver, para ser Senhor tanto de mortos como de vivos”(Rm14:9).“Que Ele possa ser Senhor”, mais do que Salvador, mais do que Intercessor. O Senhorio de Cristo sobre o crente é a chave para o Senhorio de Cristo sobre o universo.Nestes dias da graça o plano de Deus está limitado ao crente, e por isso o chamamento da cruz a ele agora é o chamamento para um prático reconhecimento do direito do Salvador de ser Senhor. Se o Senhor alcançará o trono, nós temos algo a fazer com ele.Isso desperta cada um de nós em um sentido muito prático, pois isso não apenas mostra que nunca podemos nos despir da responsabilidade de sermos companheiros de trabalho com Ele nos planos divinos, mas que Ele está contando conosco para suprirmos tal lugar de serviço. Por essa razão nos chama para esta grande obra de parceria com Ele, assim para viver isso através de nós forças podem sair para a consumação do Seu desejo.O que somos, compõe o nosso ser? Em que área da vida devemos aceitar e reconhecer Jesus Cristo como nosso Senhor? Não há possibilidade de nenhuma outra resposta a menos de que o Calvário comprou a totalidade da pessoa, e todas as coisas na vida do crente estão necessariamente dentro da jurisdição do Senhor Jesus Cristo. Contudo mesmo neste ponto se levanta controvérsia entre nós e o Senhor. Em certas áreas não temos tanta objeção à autoridade de Cristo, quanto nos grandes conceitos da vida os quais sentimos serem muito difícil para tratarmos. Então estamos contentes com uma mão forte e controladora e um coração perfeitamente sábio? Mas não existem outras áreas nas quais não estamos tão desejosos de reconhecer Sua soberania, como nos detalhes da vida, nestes assuntos que cortam fora nossaspróprias opiniões e preconceitos, nossos gostos e aversões? Assim quão fundo a cruz deve ir em nossa vida? Quais, depois de tudo, são os direitos de Cristo em e sobre nós? Quão fundo estamos preparados para permitir o Espírito Santo ir quando Ele busca fazer o propósito do Calvário real em nós? Estas são questões penetrantes.Quais são as demandas de Cristo como Senhor, mantendo sempre em vista o fato de que Ele está apontando para o trono e precisa de um caminho ao longo do qual Ele possa alcançá-lo, este caminho trilhado pela vida, bem como pelo serviço e lealdade, de Seus seguidores?(i) A primeira coisa que me motiva é minha mente e sobre ela o Senhor Jesus Cristo reivindica autoridade.Paulo diz: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2).Por causa da queda e seus resultados há uma clara necessidade da autoridade do Senhor Jesus Cristo em nossa mente. O apóstolo fala na mais clara linguagem: “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade [mente simples] e da pureza que há em Cristo” (2 Co 11:3). Esta é a mente natural, a mente sem Cristo, que não está sob o controle do Espírito Santo; uma mente corrompida inclinada na direção diferente daquela na qual originalmente destinava ir, e portanto uma mente não harmonizada com a mente de Deus. Em Romanos 8 verso 5 esta mente é ainda mais descrita: “Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito”.Uma mente não renovada é carnal, hostil a Deu, e em primeira aos Coríntios 2 verso 14 ainda outra revelação dela é dada: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus... e não pode entendê-las...”.Incapaz para a recepção e percepção espiritual, a mente humana requer renovação, e a renovação da mente se torna essencial para reconhecer a possessão de Satanás sobre a mente através do pecado, pela batalha no Éden que foi travada ali. Eva entregou sua mente a Satanás. Ele despejou seu veneno nela e o rio está fluindo desde então. No momento em que os homens destilam especulações e teorias, e desejam enfrentar as circunstâncias na atual situação, se encontrarão voltando-se a Deus, desejosos por um remédio que descobrirão na cruz. Ao tornarem este remédio prático, três poderes têm que ser colocados em ação. Primeiro, a fé que vê a vitória completa da cruz.Segundo, nossa vontade. No campo daquela vitória, por um ato deliberado ela toma a mente do controle de Satanás e a entrega ao Espírito Santo para que Ele possa trazer o poder da cruz para levar o velho pecado cometido e a mente controlada pelo pecado, e dar em seu lugar uma mente renovada. E o terceiro poder que deve entrar em ação é a obediência inteligente da nossa parte a cada impulso do Espírito Santo quando Ele nos move para resistir os maus pensamentos e suas forças, e nos guarda na graça oposta quando Ele a apresenta.A mente renovada é um grande agente na realização destes propósitos divinosos quais têm como objetivo o assentar do Filho de Deus no trono.(ii) Cristo reivindica a supremacia sobre o coração, pois somente quando isso é reconhecido e garantido é que Ele pode alcançar Seu alvo. Em Hebreus 4 verso 12 a luz límpida é lançada sobre um assunto de grande importância para o crente.“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito... apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. A espada da Palavra se torna a critica do coração, e diante de tudo o que ela expõe podemos ver o caminho para a cura e a vitória. Com grande ênfase o escritor afirma que o propósito da Palavra de Deus, guiada pelo Espírito Santo, é de “dividir em pedaços” duas forças poderosas em nós, a alma e o espírito. A parte almática de nosso ser talvez seja mais bem descrita como aquilo que em nós é puramente natural e que se recusa a ser controlada pelo Espírito Santo, enquanto que a espiritual é aquela que é vivificada pelo Espírito Santo, se tornando o canal através do qual Ele opera para manifestar a vida de Deus e consumar Sua vontade. Esta é uma definição imperfeita, mas pode nos ajudar a entender a diferença, e nada é mais necessário na vida cristã do que conhecer o significado destes dois termos, alma e espírito. Todo feito almático o qual vem do meramente natural, a parte do Espírito de Deus, é um obstáculo para Cristo alcançar o trono, ou pelo menos é sem serventia. Se o almático é supremo em nós haverá energia e entusiasmo, e até mesmo sacrifício na obra de Deus, muito daquilo que os homens elogiam, mas pode não haver fruto para Deus nisso porque o fruto não vem das fontes naturais.Mas temos dentro de nós uma tal mancha do pecado, as influências da velha natureza de Adão, que falhamos em discernir que muito do serviço cristão é almático, planejado e guiado somente pelos nossos poderes naturais, o intelectual e o emocional. Precisamos reconhecer que temos que render a nossa 'obra' para o Espírito Santo, ser conduzida em uma contínua experiência profunda de identificação com Cristo em Sua morte, não somente para o pecado mas para o natural em nós, tanto o mal como o bom, antes que o fruto possa ser colhido por Deus. Não vamos fechar nossos olhos para os perigos da vida cristã almática.Há apenas um caminho de libertação e segurança, e neste caminho o crente precisa prosseguir em cooperação ativa e constante com o Espírito Santo. Devemos render todo nosso poder natural a Ele para que a cruz faça sua obra em nós, e deste ato de rendição virá o espírito puro, nascido do Espírito Santo, energizado e operado por Ele. É quando a cruz toca o espírito, alma e corpo, que cada parte de nosso ser encontra seu lugar correto e tem o poder para cumprir sua correta função. É supremamente importante que estejamos desejosos que o Espírito Santo examine nosso coração com poder infalível e trate com tudo que Ele vê em nós que tem sobre ele a marca da velha natureza.Por meio disso, Cristo encontrará degraus sobre os quais subir ao trono.Assim como você e eu só podemos encontrar Deus através da morte de nosso Senhor Jesus Cristo, Ele só pode alcançar Seu trono através de nossa morte para tudo aquilo que o Espírito Santo revela como humano, natural e almático.(iii) Cristo precisa ter autoridade sobre a consciência se for para Ele alcançar o trono. Este era o alvo de Paulo: “Por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensas diante de Deus e dos homens” (At 24:16).Uma mente controlada por Cristo é um grande fator na aceleração do triunfo vindouro do Senhor Jesus. A consciência que não está sob o controle do Espírito Santo está sempre adormecida. Satanás a mantém drogada.Mas uma consciência sob a autoridade divina é vívida, sensível, responsiva a todo impulso santo. A consciência freqüentemente é ignorada no crente e algo mais é tolerado em seu lugar. Ela somente pode ganhar jogo justo quando o Espírito Santo é reconhecido como estando no comando dela, operando dentro e fora dela o grande programa da cruz.Quando isso é assim, o dever nunca será deixado inacabado. As reivindicações de Cristo não serão esquivadas.O prazer próprio não será o poder que planeja a forma de vida. As responsabilidades serão concebidas corajosamente e honestamente.Cristo espera isso. A cruz o ordena. O mundo precisa disso, e alguém que esteja olhando para nós quer que os convençamos que há naquilo que dizemos, quando falamos da cruz e da salvação.Uma consciência controlada por Cristo está ajudando a apressar o dia do triunfo do Salvador.(iv) Mas há algo mais que Cristo deve controlar, é a vontade. O que Ele mesmo disse? “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6:38). A supremacia sobre a vontade marca outra de Suas reivindicações. Uma vontade rendida trará um fluxo de bênçãos. Uma vontade difícil e indiferente bloqueia o curso de Deus. A mais elevada ilustração de uma vontade sob supremacia é exibida por Cristo e Ele é nosso exemplo. O chamamento imperativo da cruz e do trono é para isso, e apenas quando isso é reconhecido pode a necessidade de Deus a respeito do mundo ser satisfeita, e a necessidade do mundo suprida por Deus. Somente uma vida rendida pode persuadir outras vidas a se renderem. Somente a alma em quem a cruz está realizando sua obra, pode conduzir outras almas para a cruz, e o chamado de Deus é para uma vontade rendida ativamente cooperar com Ele. Não pela passividade Deus opera, mas pela atividade.O espírito ativo, não a passividade almática, e o Espírito Santo requer que juntemos as mãos com Ele de uma forma inteligente em face das forças do mal e todas as provações da vida, sendo, como o Senhor Jesus foi, rendido à vontade de Deus e fazê-lo com a maior naturalidade. A supremacia de Cristo sobre a vontade significa nossa vida em custódia e sob a correta direção, cooperação e companheirismo com Ele no propósito de Seu Pai. Através de tal vida Cristo subiu ao lugar de onde governará o mundo e operará a salvação do universo.(v) Sobre uma outra parte de nosso ser Cristo deve ter controle.Paulo o reconhece, quando escreve: “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1). Na Escritura há uma dupla descrição do corpo. Primeiro, é o templo de Deus, e então é o corpo do pecado. Como o templo de Deus deve ser rendido a Deus. Como o corpo do pecado deve ser posto fora de ação, mortificado pelos feitos da cruz quando nos rendemos a ela, e obedecemos ao Espírito Santo. Deixe esta supremacia ser reconhecida e de uma vez estaremos atentos à santidade do corpo para que sejamos guardados do cuidado excessivo por um lado e da imprudência do outro. O corpo deve ser nutrido e não pajeado, protegido não mimado, usado em serviço real e não poupado por indolência e alívio.Quando Cristo deste modo toma o comando do espírito, alma e corpo, cada parte do ser encontra seu lugar correto e cumprem suas corretas funções.O espírito, em contato com o Espírito Santo, disciplina a alma e torna o corpo preparado para sua obra.O poder de Deus opera em nós para fazê-Lo supremo, e nos fazer viver não para nós mesmos mas para Ele. Com todo o ser sob Seu controle, Cristo no tempo devido alcançará o trono e dali inspirará e regulará cada departamento e detalhe da vida. Há apenas uma Cabeça, e quando o corpo e a vontade, a consciência, o coração e a mente respondem em amável obediência ao Seu governo, a vida será frutífera no serviço e radiante na experiência. O advento do Senhor somente se tornará um fato quando cada um de nós permitirmos ao Espírito Santo tornar o plano de Deus através da cruz efetivo em nossa vida. Cristo, supremo no trono do coração do crente alcançará o lugar do governo e daquele lugar então irá aos confins da terra, Seu poder e Sua influencia para conduzir as nações aos Seus pés para adorar e servir a Ele, para fazer Sua vontade na terra assim como é feita no céu. Então chegará o dia que em plenitude de alegria a terra começará a antífona que nunca cessará: “O reino da terra se tornou o reino de nosso Senhor, e de Seu Cristo, pois o Senhor onipotente reina”.
Do livro: “A Cruz na Fé e Conduta”
(The Cross in Faithand Conduct).

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