segunda-feira, 23 de junho de 2008

Com o diabo, não existe Um simples aperto de mãos...


Ele chegou na agência de propaganda e marketing, muito amistoso e se apresentou. Apertaram as mãos. Um aperto de mãos diz muito sobre a personalidade de uma pessoa. Pelo menos, era essa teoria que ele tinha. E ele tinha sentido firmeza no aperto de mão daquele homem sorridente e simpático, cujo sorriso daria para estrelar uma propaganda de Colgate ou Cepacol. Muito educado e de fala mansa. Um homem envolvente e sedutor. Plenamente alinhado, vestia um terno de griffe italiana. E a gravata, então? Ele nunca tinha sentido inveja de uma gravata. Daquela, ele sentiu. Onde será que ele comprou aquela gravata? Precisava de uma igual para inspirar aquela aura de sucesso. Já os sapatos dele pareciam reluzir de tão bem engraxados.

Definitivamente, era uma pessoa extremamente agradável, bom papo. Conhecia os mais variados assuntos e era um homem de opiniões firmes. Trouxe idéias novas para a agência, que estava ganhando rios de dinheiro com o Marketing Político. Sabe como é, você pega um péssimo candidato e transforma ele no salvador da Pátria. Ele trazia grandes idéias. Acreditava na paz mundial, falava na igualdade entre os homens e lamentava a desigualdade social. Se declarava religioso e, até mesmo, carregava um crucifixo com um Jesus dourado apregoado num cruz cravejada de brilhantes. Bonita jóia.Foi inevitável convidá-lo para uma dose de uísque no barzinho. Cara legal. Ele pagou a rodada (nesse momento, foi inevitável perceber que sua carteira parecia uma bolsa de valores: Visa, Mastercard, Credicard). As mulheres o admiravam, lançavam-lhe os mais sedutores olhares. Derretidas por ele. Sem dúvida, era um homem de sucesso. Era impossível não querer ser como ele. "Quer saber o segredo do meu sucesso?". Claro que queria. E assinou sem ler. Era impossível não confiar naquele homem que, a partir de agora, era o seu modelo a ser seguido. Passado algum tempo, o espelho do seu quarto refletia aquela imagem sedutora que um dia ele invejou. Era um sujeito de aperto firme, fala mansa, alinhado e envolvente curtindo o sucesso que conquistara. Só uma coisa: não gostava daquele bendito crucifixo que ele tinha lhe presenteado. "Nunca tire esse crucifixo do pescoço", ele lhe disse. Devia ser alguma superstição. Por isso, resolveu deixar a jóia como pagamento para uma prostituta. Ao chegar em casa, alguém o aguardava. Ele. "Chegou o dia. Está pronto?". Sua reação ao ver o amigo, foi de admiração e espanto. Como ele tinha conseguido entrar em seu apartamento. "Eu sempre estive junto de você, desde aquele dia em que nos conhecemos. Sua vida não lhe pertence. Você viveu como eu quis que vivesse. seu objetivo ja foi cumprido". Ele não entendia. "Olhe-se no espelho". E ele se virou para o enorme espelho em sua sala, que não mais refletia aquela imagem de sucesso. O que via agora era um ser de orelhas pontiagudas, face deformada que, em cuja fronte, brotava um par de chifres demoníacos. Seus braços esticados, chegavam à altura dos joelhos e suas unhas eram enormes. Suas costas curvadas de forma bestial e seus pés bifurcados, como patas de bode. Tinha se transformado num demônio. "Nãõooooooooooooooooo oo. O que você fez comigo?????" . O homem ria. "Eu dei o que você quis. Hoje, vim buscar o que é meu". Não era possível. Ele já tinha ouvido falar no demônio, mas achou que era um invenção dos padres e religiosos. "Você nunca disse que isso aconteceria. Você nunca falou no mal". O homem gargalhava. "Questão de marketing, meu amigo. O bem atrai mais adeptos à minha causa do que você é capaz de imaginar"... .

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